DIÁRIO DE UMA MÃE QUE ESCREVE
Desde que a Marina nasceu, há um ano e três meses, eu voltei a escrever.
Mexendo nos meus "guardados" encontrei o meu relato de parto (nunca partilhado), com
o título: "diário de uma mãe". Desconfio que foi a partir, de então, que comecei a registrar
no meu instagram pessoal coisas aleatórias acerca da minha maternidade no quadro: "Diário de uma mãe".
Esta escrita me conectou com algumas mulheres que também viveram o puérperio no mesmo período, a introdução alimentar,
a rotina de sono que nem sempre (ou quase nunca) dá certo, entre tantas outras experiências que mesmo sendo fruto
da minha subjetividade encontraram refúgio em outros corpos e, com isso, eu também recebi muito daquelas que me leram/leem.
Pois bem, vamos a conversa de hoje.
Li recentemente um texto da Giovana Madalosso que dizia algo, mais ou menos, assim:
"temos escrito com as nossas crianças penduradas nas nossas pernas". Eu não salvei o texto, então,
caso o encontre, me envie, por favor, na falta, fico com o que ficou preso a minha memória.
Essas palavras seguem sendo reverbaradas por aqui, afinal, além da identificação, pois alguns dias, ou na maioria deles,
esta também é a minha realidade. Marina abandona os brinquedos que estão no tapete ao lado da minha cadeira e vem com as
mãozinhas esticadas pedindo colo e curiosa para saber o que eu tanto faço enquanto olho para uma tela.
Tela essa que é dividida ao meio. Metade câmera para vigiar o sono da pequena (quando ela não está no meu escritório). Metade drive onde os textos nascem.
Tudo isso me levou ao ensaio célebre da Virginia Woolf "Um teto todo seu" em que a autora questiona em quais condições, nós mulheres,
escrevemos. Sim, Virgina, além de comprar as nossas flores, também seguimos na busca de um teto todo nosso, e como mãe de menina, penso
que escrever com ela nos braços é também um convite à educação que tenho me esforçado para oferecer diarimante que é atravessada por uma mulher
que tem se tornado quem és (Obrigada, Nietzsche), também, graças a escrita. Mas isso não anula a importância de que em um determinado período eu pudesse escrever
no silêncio, sem me preocupar se a minha bebê irá se machucar ou não. Todavia, para que isso aconteça, a escrita precisa primeiro ser entendida como um ofício (para o outro e para mim) que exige um tempo desconexo com o que está acontecendo à volta. É preciso entender que escrever é um modo de existência e que quando as palavras vão para longe, elas não retornam. Outras vem, mas não àquelas que se foram.
Trabalhar em casa e não contratar uma babá ou colocá-la numa creche foi e continua sendo uma escolha minha. Mas quem disse que as nossas vontades não são paradoxais?
Dito isso, escrever tem sido um convite a uma imersão em mim. Resolver pequenos/grandes conflitos. Elaborar aquilo que não pode se limitar ao divã, uma vez que a análise acontece
inclusive fora dele.
Escrevo aqui, por dois motivos:
1- para me ouvir;
2- com a pretensão de que, talvez, tal como o texto da Madalosso me atravessou, as minhas palavras também te atravessem.
Ah, como não sou boa em matemática, vai um terceiro: te dizer que para escrever não precisamos de manuais, "apenas" do desejo.
Suspiros!
Beijocas,
Andréia (mãe da Marina - porque isso diz muito de quem sou).